Banco genômico nacional visa preservar espécies ameaçadas do Brasil

Banco de Referências Genômicas de Espécies Brasileiras

O Banco de Referências Genômicas de Espécies Brasileiras (GenRefBR) é uma plataforma pública e gratuita destinada a catalogar e armazenar material genético de espécies da fauna e flora do Brasil. O projeto foi apresentado durante a COP30 e é uma iniciativa do Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB), que envolve uma parceria entre o Instituto Tecnológico Vale (ITV) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O principal objetivo do GenRefBR é diminuir a dependência de repositórios internacionais e aumentar a visibilidade das espécies brasileiras no cenário global. A pesquisadora Gisele Nunes, do ITV, destaca que, anteriormente, pesquisadores brasileiros precisavam recorrer a bancos de dados de outros países para estudar o DNA de espécies nativas, o que nem sempre garantia a autenticidade do material genético.

Para a criação do GenRefBR, os pesquisadores utilizaram dados de espécies brasileiras já disponíveis em bancos internacionais, complementando com informações sobre o bioma de origem e o risco de extinção. Para as espécies prioritárias que ainda não tinham genoma publicado, foram mapeadas pesquisas em andamento no Brasil, e em alguns casos, foi necessária a coleta de amostras em campo.

Produção de Genomas e Análise Genética

O projeto prevê a produção de pelo menos 80 genomas de referência, que servirão como um mapa de alto padrão de qualidade do código genético das espécies. Além disso, serão gerados mil genomas populacionais, que analisam a diversidade genética de diferentes indivíduos, e 1.600 códigos de barras de DNA, que são sequências curtas e padronizadas que identificam de forma única as espécies.

As amostras coletadas são enviadas ao laboratório de genômica do ITV em Belém, onde são realizadas as etapas de extração do DNA, sequenciamento e análise bioinformática.

Conservação de Espécies Ameaçadas

Uma das espécies que se beneficiará do GenRefBR é a saíra-apunhalada (Nemosia rourei), que atualmente conta com apenas 20 indivíduos em duas áreas de floresta no Espírito Santo. Essa ave, que habita a Mata Atlântica primária em altitudes superiores a 800 metros, possui uma distribuição geográfica bastante restrita.

Com a iniciativa do GBB, um genoma populacional da saíra-apunhalada será armazenado, e os resultados preliminares sugerem que existe uma conexão entre as duas populações, que estão a 80 quilômetros de distância uma da outra. Medidas para garantir o fluxo gênico entre essas populações, como a criação de corredores de Mata Atlântica, estão sendo consideradas.

Outro exemplo de espécie com genoma armazenado é o Iuiuniscus iuiuensis, um isópode cego e despigmentado que constrói casulos de barro para se proteger durante a troca de exoesqueleto. Essa espécie foi descoberta pelo biólogo Rodrigo Lopes Ferreira, da Universidade Federal de Lavras (MG), em uma caverna na Bahia.

Fonte por: It Forum