Uso de Inteligência Artificial na Educação Brasileira
A utilização de inteligência artificial (IA) por estudantes e professores do Ensino Médio no Brasil tem se tornado cada vez mais comum, mas ocorre de maneira desigual e sem uma orientação clara. Essa é a conclusão do estudo “Inteligência Artificial na Educação: usos, oportunidades e riscos no cenário brasileiro”, divulgado pelo Cetic.br.
Transformações no Cotidiano Escolar
O estudo, que se baseou em entrevistas com especialistas e grupos focais em escolas públicas e privadas de São Paulo e Recife, revela que a IA generativa está mudando a rotina escolar. Alunos utilizam essas ferramentas para fazer resumos, resolver questões e até buscar apoio emocional, enquanto professores as empregam para planejar aulas e criar atividades, aliviando a carga de trabalho administrativo.
Pacto Silencioso entre Alunos e Professores
Apesar da ampla utilização, tanto alunos quanto professores operam em um “pacto silencioso”. Os educadores estão cientes do uso de IA pelos alunos para redigir textos, mas evitam discutir o assunto devido à falta de diretrizes e critérios de avaliação. Os estudantes, por sua vez, tentam disfarçar o uso da tecnologia, pedindo que os sistemas “humanizem” os textos gerados.
Desafios na Compreensão da IA
O diagnóstico do estudo aponta que a compreensão sobre o funcionamento da IA é limitada entre alunos e professores. Ambos enfrentam dificuldades para verificar a veracidade das respostas e entender os algoritmos, além de lidarem com dilemas éticos relacionados à autoria e privacidade. No entanto, há um grande interesse por formação crítica, com estudantes desejando entender melhor a tecnologia e seus riscos, enquanto professores buscam capacitação, mas enfrentam barreiras como falta de tempo e infraestrutura.
Desigualdade de Acesso e Impactos da Tecnologia
A desigualdade de acesso à tecnologia é um dos principais problemas identificados na pesquisa. Escolas privadas têm maior familiaridade e acesso a ferramentas de IA, enquanto as públicas enfrentam desafios como conectividade precária. Essa diferença se reflete também no ambiente doméstico, onde famílias de classes altas têm acesso a internet e dispositivos, enquanto as de classes mais baixas raramente dispõem desses recursos.
As percepções sobre os impactos da IA variam entre alunos e professores. Para os estudantes, a tecnologia representa agilidade e apoio ao aprendizado; já para os educadores, há preocupações com a perda de autonomia intelectual e a fragilidade do pensamento crítico. Ambos concordam que o maior risco reside na possibilidade de respostas imprecisas, o que exige uma checagem constante.
Diretrizes e Políticas Públicas Necessárias
O estudo enfatiza que a integração da IA na educação é inevitável, mas seu sucesso depende de diretrizes claras e políticas públicas que formem professores e orientem práticas pedagógicas. A necessidade de diálogo é urgente, pois muitas discussões sobre IA ocorrem apenas por iniciativa individual de docentes. A pesquisa destaca que tanto professores quanto alunos enfrentam o desafio de aprender a lidar com uma tecnologia que se disseminou rapidamente.
Além disso, os pesquisadores ressaltam a falta de evidências robustas sobre os impactos pedagógicos da IA. Estudos empíricos sobre seu uso em sala de aula ainda são escassos, especialmente em relação a sistemas que monitoram engajamento ou risco de evasão, os quais podem representar riscos à privacidade de crianças e adolescentes.
Uma pesquisa anterior revelou que 70% dos alunos do Ensino Médio e 58% dos professores já utilizam IA generativa. O novo estudo aprofunda essa análise, revelando entusiasmo entre os estudantes, cautela entre os professores e uma demanda comum por orientação institucional.
Especialistas concordam que a IA deve ser utilizada para promover inclusão e apoiar o trabalho docente, e não para substituir professores ou diminuir o esforço intelectual dos alunos. A adoção da tecnologia deve ser gradual, supervisionada e alinhada a princípios éticos, garantindo a proteção de dados e a soberania tecnológica.
Fonte por: Convergencia Digital
