A Revolução da Inteligência Artificial na Indústria de Software
A chegada da automação nas fábricas gerou a expectativa de que as máquinas substituiriam os trabalhadores, mas, com o tempo, o trabalho evoluiu e não desapareceu. Na indústria de software, a situação se repete: a inteligência artificial (IA) já é capaz de escrever, revisar e testar códigos, mas o número de desenvolvedores aumentou em 30% nos últimos dois anos, conforme aponta o Octoverse Report 2025 do GitHub. Em vez de eliminar a profissão, a IA a transformou e redefiniu o conceito de “trabalhar com tecnologia”.
Tim Rogers, gerente de produto sênior do GitHub, destaca um fenômeno surpreendente. “Apesar da IA, o número de desenvolvedores está crescendo mais rapidamente do que nunca. No último relatório, registramos uma nova conta no GitHub a cada segundo”, afirmou durante o GitHub Universe 2025, em San Francisco. “O Brasil, em particular, teve o crescimento mais acelerado da história.”
O que se observa não é a extinção do programador, mas o surgimento de uma nova função: o curador de inteligências. Rogers explica que ferramentas como o GitHub Copilot permitem que os desenvolvedores deleguem tarefas repetitivas, como testes e documentação, permitindo que se concentrem em decisões criativas e estratégicas.
“Atualmente, apenas 20% do tempo de um desenvolvedor é dedicado à escrita de código. O restante é consumido por tarefas repetitivas. Com a IA, nosso objetivo é inverter essa proporção”, afirma. “Isso permitirá que as pessoas se concentrem em resolver novos problemas que realmente agregam valor.”
Essas mudanças são corroboradas por dados da plataforma Stack Overflow, que revelam que 85% dos desenvolvedores utilizam IA no desenvolvimento de software, e 72% afirmam ter aprendido mais sobre lógica e arquitetura de sistemas desde que começaram a usar assistentes de código. “A profissão se transforma e se expande”, conclui Rogers.
O Novo Chão de Fábrica Digital
O GitHub sempre foi um espaço de desenvolvimento colaborativo, mas agora essa metáfora se aprofunda. O chão de fábrica digital é um ambiente onde humanos e máquinas cognitivas trabalham em conjunto. Ferramentas como Copilot Code Review e Mission Control marcam o início de uma era em que os desenvolvedores supervisionam equipes de agentes autônomos, cada um com papéis e especializações distintas.
“Antes, cada desenvolvedor se concentrava em uma ou duas tarefas. Hoje, um único profissional pode ter três ou quatro agentes realizando atividades simultaneamente”, explica Rogers. “Isso gera um novo tipo de produtividade e uma complexidade adicional.”
A Economia da Orquestração
De acordo com Júlio Viana, gerente regional do GitHub no Brasil, o país está em transição entre a “era do prompt” e a “era da orquestração”. “As empresas brasileiras começaram utilizando a IA como um programador auxiliar. Agora, estão aprendendo a orquestrar agentes autônomos”, relata.
Viana ressalta que essa mudança não afeta apenas a forma de desenvolver, mas também a gestão da tecnologia. “As equipes começam a se dividir entre quem escreve código e quem o dirige. É como passar de tocar um instrumento para reger uma orquestra.” A revolução em curso é tanto técnica quanto cognitiva. Se antes o valor do desenvolvedor estava em “fazer o código funcionar”, agora reside em “fazer as inteligências colaborarem”.
Rogers acredita que o próximo avanço ocorrerá quando os agentes deixarem de ser meros executores e se tornarem propositivos. “Atualmente, eles aguardam instruções. No futuro, poderão sugerir melhorias e ideias. O papel humano será avaliar o que faz sentido, e isso é o cerne da inovação”, conclui.
Fonte por: It Forum
